MUSHIN
do livro "A Doutrina Zen da Não-Mente" de Daisetz Teitaro Suzuki
O que é mushin (wu-hsin em chinês)? O que quer dizer "estado de não-mente" ou "estado de não-pensamento"? É difícil encontrar em português o termo equivalente, a não ser talvez a palavra Inconsciente, embora até mesmo ela deva ser usada num sentido particular. Não é o sentido comum de Inconsciente da psicologia, nem o sentido que lhe é atribuído pela psicanálise, onde ele significa muito mais que a mera falta de consciência; mas, provavelmente, no sentido de "terreno insondável" dos místicos medievais ou no sentido de Vontade Divina anterior à revelação do Verbo ao mundo.
Mushin ou munen deriva primariamente de muga, wu-wo, anatman, "não-ego", "não- identidade" — que é a principal noção do Budismo, tanto Hinayana quanto Mahayana. Com o Buda, não se trata de um conceito filosófico, mas da sua própria experiência; toda a teoria posteriormente desenvolvida em torno dessa experiência constituiu uma estrutura intelectual destinada a apoiar a experiência. Quando a intelectualização se tornou mais profunda e mais adiantada, a doutrina do anatman assumiu um aspecto mais metafísico e a doutrina do Sunyata desenvolveu-se. No que se refere à experiência em si, não havia diferença, mas a doutrina do Sunyata tem um campo de aplicação mais amplo e, como filosofia, penetra mais profundamente na fonte da experiência. Pois o conceito de Sunyata agora não é aplicável somente à experiência da ausência do ego, mas, em geral, também à experiência do estado da ausência de forma. Todos os Sutras Prajnaparamita negam enfaticamente a noção de pessoa, de ser, de criador, de substância, etc. A teoria do anatman e a de Sunyata são, praticamente, a mesma doutrina. O Prajna acompanha o sunyata e passa a ser um dos principais temas dos Sutras.
O T`an-ching, de Hui-neng, refere-se constantemente à natureza de Buda e à natureza-própria. Ambas significam a mesma coisa e são originalmente, por natureza, puras, vazias, Sunya, não-dicotômicas e inconscientes. Esse Inconsciente puro e desconhecido move-se e desperta o Prajna; e com o despertar do Prajna, surge o mundo das dualidades. Esses eventos, porém, não são cronológicos; não são eventos que se dão no tempo; e todos esses conceitos — como natureza-própria. Prajna, mundo de dualidade e de multiplicidade, são pontos de referência destinados a facilitar e a tornar mais clara a nossa compreensão intelectual. A natureza-própria não tem, portanto, uma realidade correspondente no espaço e no tempo. Pelo contrário, estes é que surgem da natureza-própria.
Outro ponto que devo esclarecer melhor nesta conexão é que o Prajna é o nome dado por Hui-neng à natureza-própria (ou Inconsciente) quando esta se torna consciente de si, ou melhor, indica o próprio ato por que ela se torna consciente de si. O Prajna, portanto, aponta para duas direções: para o Inconsciente e para um mundo de consciência — o qual, agora, encontra-se desdobrado. A primeira se chama Prajna não-discriminativa e a segunda, Prajna de discriminação. Quando nos achamos envolvidos na direção exterior da consciência e da discriminação, a tal ponto que chegamos a esquecer a outra direção do Prajna, aquela que aponta para o Inconsciente, encontramos o que tecnicamente se chama Prapanca, imaginação. Enunciando a mesma idéia de modo inverso, podemos dizer: quando a imaginação se impõe, Prajna é escondido e a discriminação (vikalpa) se adianta, ficando então obscurecida a superfície pura e imaculada do Inconsciente ou natureza-própria. Os defensores da teoria de munen ou mushin, aconselham-nos a evitar que o Prajna se perca na direção da discriminação e a conservar os olhos fixos na outra direção. Atingir o mushin significa recobrar, objetivamente falando, o Prajna da não-discriminação. Quando essa idéia for desenvolvida mais detalhadamente, compreenderemos o significado do mushin no pensamento zen.
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The legendary Zen master Takuan Sōhō said:
"The mind must always be in the state of 'flowing,' for when it stops anywhere that means the flow is interrupted and it is this interruption that is injurious to the well-being of the mind. In the case of the swordsman, it means death. When the swordsman stands against his opponent, he is not to think of the opponent, nor of himself, nor of his enemy's sword movements. He just stands there with his sword which, forgetful of all technique, is ready only to follow the dictates of the subconscious. The man has effaced himself as the wielder of the sword. When he strikes, it is not the man but the sword in the hand of the man's subconscious that strikes".